Uma necessidade para este tempo

Autor: Alonso de Souza Gonçalves

O tema da liberdade é parte do protestantismo. Liberdade para tolerar o outro e suas opções (Locke). A Reforma protagonizou um momento histórico e decisivo, onde o espírito servil deu lugar a um espírito livre. Na fragmentação em denominações e suas idiossincrasias o protestantismo perdeu a capacidade de dialogar enquanto que os pressupostos (pluralismo e secularismo) da modernidade têm solicitado uma abertura ao diálogo.

Nosso tempo sinaliza a crise das instituições religiosas tradicionais que passam por um processo de desinstitucionalização da religião, havendo uma fluidez nas dinâmicas espirituais, quebrando assim a hegemonia de uma vertente religiosa ou normativa e estabelecendo o pluralismo.

Como corolário da modernidade, a secularização favoreceu o pluralismo – necessário para se entender o atual momento das tradições religiosas num mundo que passou pelo desencantamento (Weber), especialmente o cristianismo. Aqui, a religião passa de protagonista à coadjuvante perdendo, portanto, seu papel de integradora e legitimadora da ordem social e política. O que era sólido, se derrete.

Mas, a secularização não significa ausência da religião na sociedade ou a sua retirada da vida, mas o antagonismo entre o sagrado e as instituições que detém o monopólio dos símbolos religiosos e os manuseavam de maneira tutelar. Agora há os “fornecedores de sentido para obter o favor de um público que se vê confrontado com a dificuldade de escolher entre uma infinidade de ofertas, a mais adequada” (Berger & Luckmann). Estamos diante da concorrência de bens simbólicos onde não há espaço para uma prática religiosa imposta de maneira obrigatória diante de sistemas similares ou a pretensão à um sistema totalizador, porque há outras “grandes” instituições que concorrem com elas. São as múltiplas experiências religiosas que fornecem condições para que o pluralismo seja dinâmico e perceptível.

A pluralidade causa crise de sentido, ao mesmo tempo em que oferece diversidade de sentido. Em decorrência disso, as experiências religiosas são híbridas, onde novas formas de se experimentar o sagrado ganham outras configurações.

A multiplicidade de oferta de bens religiosos, o pluralismo e a subjetividade são marcas indeléveis da contemporaneidade, campo fértil para discursos antagônicos e agressivos. É preciso compreender esta realidade para dar respostas que atendam aos verdadeiros e mais profundos anseios desta sociedade.

O desafio de Karl Barth, quando pastor em Safenwil, de ter uma Bíblia na mão e o jornal na outra para ler a conjuntura de seu tempo, continua.

*Pastor na IB Central em Pariquera-Açu